A voz do silência José Otchinhelo
A VOZ DO SILÊNCIO
O coração parecia que iria explodir, batia com toda a força que ainda lhe restara, o peito inflamado, tinha pouco espaço para respiração, tudo dentro dele parecia grande de mais para deixar entrar sentelhas de ar que pudessem manté-la viva.
Ela estava assustada, aos cinco anos de idade, orientada pela mãe, correra mais de dois quilómetros sem parar, em direcção a casa da avó, que ficava no sopé da montanha sagrada.
A morte mordia os seus calcanhares, a corrida de fundo, estava longe de ser aquela, habituada com suas amigas, daquela aldeia rasgada ao meio pelo rio, cujas brincadeiras iam para além das nove da noite, sem medo e com toda felicidade. Cazuba era o paraíso.
Desta vez, Vissolela, a única gêmea da aldeia, corria entre riachos, extensa vegetação, cruzava-se com alguns animais, incluindo selvagens, mas sozinha, sem as vozes habituais, sem os cheiros que ela conhecia, sem adultos a observarem, sem os gritos da criançada, aliáis, ela nem podia gritar. Corria desesperadamente para salvar sua vida.
Mas, Vissolela não era a única a correr, outras crianças, jovens e adultos também corriam, embrenharam-se no meio da floresta, corriam em outras direcções, buscavam refúgio onde podiam. Muitas foram apanhadas. Foi uma manhã de intenso turbilhão na aldeia. Em alguns casos famílias inteiras estavam em debandada para salvar um único parente.
As rusgas sempre existiram em locais fora da aldeia, longe do olhar dos aldeões. Desta vez, a matança e mutilações, chegaram para dentro da aldeia. Ninguém imaginava que naquela manhã de sábado, a pacata aldeia de Cazuba, seria varrida por uma turba que acreditava que podiam ficar ricos ou curar doenças por comer carne de pessoas albinas.
Vissolela sempre soube do risco que corria devido a cor da pele. Nunca devia entrar pelo mato sozinha, em África, existem caçadores de pessoas albinas e os que foram apanhados fora da aldeia, ou foram mortos ou mutilados. Embora criança, ela ouvira estórias suficientes para que nunca estivesse só, dentro e fora da aldeia.
Só que desta vez estava sozinha. Quando avistou a cabana da avó, a sua voz minúscula agigantou-se, Vissolela começou a gritar de tal forma que até se podia ouvir no outro lado da montanha. Avó Ngueve reconheceu a voz, também interpretou o timbre e a intensidade, por isso, naqueles segundos de aflição, sabia que era a neta, mas que não trazia boas novas.
A avó saiu e correu em direcção a voz, até ver sua neta, chegar junto dela, colocá-la ao colo e correrer para dentro da cabana. Vissolela estava muito assustada, mal conseguia chorar, as lágrimas torrenciais, denunciam o pior. Antes mesmo, que ela contasse o que aconteceu, ambas choraram desconsoladamente.
Vissolela foi levada para capital do país e dai para França, onde vive actualmente, longe dos caçadores de albinos. Sua mãe e irmão, vivem agora na capital. Por serem as “rosas esquecidas” de África, ela pretende regressar ao seu país depois de se formar em Direito, e criar uma organização que zele pelos direitos humanos das pessoas albinas. Pretende também acabar com o estígma e a discriminação das mesmas.
O coração parecia que iria explodir, batia com toda a força que ainda lhe restara, o peito inflamado, tinha pouco espaço para respiração, tudo dentro dele parecia grande de mais para deixar entrar sentelhas de ar que pudessem manté-la viva.
Ela estava assustada, aos cinco anos de idade, orientada pela mãe, correra mais de dois quilómetros sem parar, em direcção a casa da avó, que ficava no sopé da montanha sagrada.
A morte mordia os seus calcanhares, a corrida de fundo, estava longe de ser aquela, habituada com suas amigas, daquela aldeia rasgada ao meio pelo rio, cujas brincadeiras iam para além das nove da noite, sem medo e com toda felicidade. Cazuba era o paraíso.
Desta vez, Vissolela, a única gêmea da aldeia, corria entre riachos, extensa vegetação, cruzava-se com alguns animais, incluindo selvagens, mas sozinha, sem as vozes habituais, sem os cheiros que ela conhecia, sem adultos a observarem, sem os gritos da criançada, aliáis, ela nem podia gritar. Corria desesperadamente para salvar sua vida.
Mas, Vissolela não era a única a correr, outras crianças, jovens e adultos também corriam, embrenharam-se no meio da floresta, corriam em outras direcções, buscavam refúgio onde podiam. Muitas foram apanhadas. Foi uma manhã de intenso turbilhão na aldeia. Em alguns casos famílias inteiras estavam em debandada para salvar um único parente.
As rusgas sempre existiram em locais fora da aldeia, longe do olhar dos aldeões. Desta vez, a matança e mutilações, chegaram para dentro da aldeia. Ninguém imaginava que naquela manhã de sábado, a pacata aldeia de Cazuba, seria varrida por uma turba que acreditava que podiam ficar ricos ou curar doenças por comer carne de pessoas albinas.
Vissolela sempre soube do risco que corria devido a cor da pele. Nunca devia entrar pelo mato sozinha, em África, existem caçadores de pessoas albinas e os que foram apanhados fora da aldeia, ou foram mortos ou mutilados. Embora criança, ela ouvira estórias suficientes para que nunca estivesse só, dentro e fora da aldeia.
Só que desta vez estava sozinha. Quando avistou a cabana da avó, a sua voz minúscula agigantou-se, Vissolela começou a gritar de tal forma que até se podia ouvir no outro lado da montanha. Avó Ngueve reconheceu a voz, também interpretou o timbre e a intensidade, por isso, naqueles segundos de aflição, sabia que era a neta, mas que não trazia boas novas.
A avó saiu e correu em direcção a voz, até ver sua neta, chegar junto dela, colocá-la ao colo e correrer para dentro da cabana. Vissolela estava muito assustada, mal conseguia chorar, as lágrimas torrenciais, denunciam o pior. Antes mesmo, que ela contasse o que aconteceu, ambas choraram desconsoladamente.
Vissolela foi levada para capital do país e dai para França, onde vive actualmente, longe dos caçadores de albinos. Sua mãe e irmão, vivem agora na capital. Por serem as “rosas esquecidas” de África, ela pretende regressar ao seu país depois de se formar em Direito, e criar uma organização que zele pelos direitos humanos das pessoas albinas. Pretende também acabar com o estígma e a discriminação das mesmas.