De Volta Rita Teixeira

Passavam das seis da tarde e o pôr do sol já se fazia notar no Norte do Quénia.
As leoas, encarregues de caçar e levar alimento para o resto da alcateia, deparam-se com dois elefantes, uma cria e a sua progenitora que rapidamente fica atenta pela presença dos felinos que se aproximam. Querendo proteger a cria, posiciona-se à sua frente tornando-se o único alvo visível aos olhos das predadoras. Após inúmeras tentativas falhadas de as afastar, faz um movimento circundante com a tromba, dando a entender à cria que esta precisa de se salvar e deixá-la. Não demorou muito para que as leoas conseguissem domar a sua presa e por fim derrubá-la, mas por essa altura já a cria estava longe o suficiente para estar fora de perigo.
Akida levanta-se sempre de madrugada, ainda a tempo de ver o sol nascer e ouvir os pássaros manifestarem-se. Hoje era a sua vez de ir buscar água, pega em dois bidões e prepara-se para ir até ao poço, um percurso a que já está habituado e que demora no máximo meia hora, dependendo da energia que tenha. Desta vez conseguiu chegar mais rápido do que esperava e por isso ainda teve tempo de se refrescar e descansar antes de regressar. Tinha os pés cheios de pó da terra, deu um último gole de água e levantou-se pronto para percorrer o caminho de volta, quando de longe reparou numa mancha cinzenta a caminhar devagar e meio desajeitada, era um elefante bebé. Estranhou não ver nenhuma manada, estava completamente sozinho. Devagar, começou a andar na sua direção e ao estar frente a frente com a pequena cria ficou apenas a observá-la. Esta, curiosa, aproxima-se de Akida, esfrega a tromba nas suas mãos e explora aquela estranha criatura que nunca tinha visto antes. Akida fica maravilhado com a inocência e os jeitos do pequeno elefante, no entanto ainda estava um quão reticente em relação ao seu aparecimento.
Nem dera pelo tempo passar. O sol já começava a aquecer e por isso apressou-se para chegar à aldeia o quanto antes.
Não faltava muito, já tinha percorrido mais de metade do caminho. Por instantes pareceu-lhe ter ouvido um estilhaçar de ramos, volta-se para trás repentinamente e depara-se com uma pequena surpresa: o elefante que encontrara perto do poço. Tentou afugenta-lo, fez barulhos e movimentos bruscos, mas nada funcionou. Experimentou continuar a andar, mas sempre que se voltava lá estava ele, por isso desistiu.
Batizou-o de Garai e como não conseguia ver-se livre dele decidiu que ia tentar cuidar dele.
Após chegar à aldeia e fazer o resto das suas tarefas, Akida construiu um pequeno abrigo a uns metros da aldeia, debaixo de uma árvore. Ele era muito cuidadoso com Garai, não podia deixar que ninguém desconfiasse da sua existência.
Todos os dias durante uma semana Akida levava Garai até uma planície, recheada de vegetação, para que este pudesse usufruir de uma alimentação mais variada do que aquela que tinha para lhe oferecer. Akida adorava passar tempo e brincar com Garai e, sempre que podia, ia ter com ele para lhe desejar as boas noites e certificar-se de que estava tudo bem.
Num desses passeios à planície, tinham acabado de chegar e Garai, como de costume, pôs-se à procura da melhor zona para pastar enquanto Akida ficava a observá-lo. De longe avistou uma manada de elefantes a passar junto do lago, perto de onde estava Garai. Akida sabia que não poderia cuidar daquela cria para sempre e, apesar de se ter afeiçoado e terem criado um laço de amizade, queria que Garai tivesse uma família capaz de o criar e proteger.
Como esperava, os elefantes acolheram-no na manada e, apesar de Akida saber que provavelmente nunca mais veria Garai, para ele continuaria a ser a doce e pequena cria que encontrara junto ao poço.